segunda-feira, 21 de abril de 2008

Pattie Boyd e seu triângulo amoroso com George Harrison e Eric Clapton

Publicado no www.whiplash.net - o mais completo site de rock e metal

Pattie Boyd poderia ter sido mais uma modelo dos anos 60 caso não tivesse sido selecionada para ser uma quase-figurante em um filme do maior fenômeno musical de todos os tempos. Durante as gravações de "A Hard Day's Night", dos Beatles, Pattie conheceu George. Eles viriam a se casar dois anos depois, em 1966. Entretanto, a vida de Pattie também se cruzou com a de Eric Clapton, o lendário guitarrista do Cream e compositor de grandes músicas do rock. Eric e George eram amigos íntimos, e é assim que começa uma das histórias de amor mais conturbadas da história do rock and roll: Eric Clapton, George Harrison e Pattie Boyd, a mulher que inspirou a composição de "Layla" (Clapton) e "Something" (Harrison). No texto a seguir, publicado no Daily Mail, a própria Pattie explica este conturbado momento de sua vida.

Nós nos encontramos em segredo em um apartamento em Kensington. Eric Clapton me pediu para ir para escutar uma nova música que ele havia escrito.

Ele ligou o gravador, aumentou o volume e tocou para mim a música mais poderosa e tocante que eu já havia escutado. Era “Layla”, sobre um homem que se apaixona perdidamente por uma mulher que o ama mas não está disponível.

Ele tocou para mim duas ou três vezes, olhando meu rosto a todo momento para ver minha reação. Meu primeiro pensamento foi: “Oh Deus, todo mundo vai saber que é prá mim”.

Eu era casada com um dos amigos mais próximos de Eric, George Harrison, mas Eric estava deixando explícito seu desejo por mim havia meses. Eu me sentia inconfortável por ele estar me empurrando em uma direção que eu não estava certa se queria ir.

Mas, ao perceber que eu havia inspirado tanta paixão e criatividade, a música tirou o melhor de mim. Eu não pude mais resistir.

Naquela noite eu estava indo ao teatro para ver “Oh! Calcutta!” Com um amigo e depois iria a uma festa na casa do empresário Robert Stigwood. George não quis ir nem ao show nem à festa.

Depois do intervalo de “Oh! Calcutta!” eu voltei e encontrei Eric no assento ao lado, depois de persuadir um estranho a trocar de lugar com ele. Depois, nós fomos à casa de Robert separadamente, mas logo estávamos juntos. Era uma festa ótima e eu me senti lisonjeada pelo que havia ocorrido anteriormente, mas também profundamente culpada.

Depois de algumas horas, George apareceu. Ele estava de cara fechada e seu humor não melhorou ao caminhar por uma festa que já acontecia havia horas e a maioria dos convidados estavam sob efeito de drogas.

Ele insistia em perguntar “Onde está a Pattie?”, mas ninguém parecia saber. Ele estava quase indo embora quando ele me viu no jardim com Eric. Estava começando a amanhecer, e estava muito enevoado. George chegou para mim e perguntou: “O que está acontecendo?”. Para o meu horror, Eric disse: “Eu tenho que te contar, cara, que eu estou apaixonado pela sua mulher”.

Eu queria morrer. George ficou furioso. Ele virou para mim e falou: “Bem, você vai com ele ou vem comigo?”

Eu havia conhecido George seis anos antes, em 1964, quando nós estávamos filmando “A Hard Day’s Night”. A grã-bretanha e a maior parte da Europa estava na onda da Beatlemania.

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr eram acompanhados por multidões onde quer que fossem, e em seus shows milhares de adolescents histéricas gritavam e berravam tão alto que ninguém conseguia escutar a música.

Pouco antes do início da filmagem de “A Hard Day’s Night”, os Beatles conquistaram a América. Em fevereiro de 1964 eles apareceram no Ed Sulliven Show, um dos programas de maior prestígio na América, e atraíram 73 milhões de telespectadores.

Eu era modelo, trabalhava com alguns dos fotógrafos mais bem sucedidos de Londres, incluindo David Bailey e Terence Donovan. Eu aparecia em jornais e revistas como Vanity Fair e Vogue, mas em março minha agente me enviou para um teste de elenco para um filme.

Ela me ligou depois para avisar que haviam me oferecido um papel de uma fã colegial em um filme dos Beatles. Minhas primeiras impressões foram que John parecia mais cínico e áspero que os outros, Ringo o mais carinhoso, Paul era bonitinho e George, com seus olhos castanhos aveludados e cabelo cor de avelã, era o homem mais lindo que eu já havia visto. Em um intervalo para o almoço, me encontrei sentada perto dele. Estar perto dele era eletrificante.

Uma das primeiras coisas que ele me disse foi: “Quer casar comigo?”. Ele estava brincando, mas havia um toque de seriedade. Nós ficamos juntos logo depois disso e nos casamos dois anos depois, no dia 21 de Janeiro de 1966. Eu tinha 21, ele tinha 22. Eu era tão feliz e estava tão apaixonada. Eu achava que ficaríamos juntos e seríamos felizes para sempre.

Três anos depois, em 1969, George escreveu uma música chamada “Something”. Ele me disse em uma conversa corriqueira que ele havia escrito para mim. Eu a achei linda e ela acabou sendo o maior sucesso que ele escreveu, com mais de 150 regravações.

Frank Sinatra disse que ele a achava a mais bela canção de amor já escrita. A versão preferida de George era a de James Brown. A minha era a do George Harrison, que ele tocou para mim em nossa cozinha.

Mas, de fato, desde então nosso relacionamento estava passando por problemas. Desde uma viagem ao templo do yogi Maharishi Mahesh na Índia, em 1968, George ficou obsessivo quanto à meditação. Às vezes ele ficava isolado e depressivo.

Meu humor começou a refletir o dele, e algumas vezes eu me sentia quase suicida. Eu não acho que tenha existido um perigo real de eu me matar, mas já cheguei a planejar como o faria: colocaria um belo vestido da Ossie Clark e me atiraria da Beachy Head.*

E haviam outras mulheres, o que realmente me machucava. George era fascinado pelo deus Krishna, que sempre estava rodeado por jovens donzelas. Ele voltou da índia querendo ser um tipo de figura Krishna, um ser espiritual com diversas concubinas. Ele chegou até a dizer isso.

Nenhuma mulher estava fora do alcance. Eu era amiga de uma garota francesa que saía com Eric Clapton. Quando ela e Eric se separaram, ela veio ficar conosco em nossa casa, Kifauns, em Esher, Surrey.

Ela não parecia nem um pouco triste por Eric e estava desconfortavelmente próxima a George. Algo estava acontecendo entre eles, mas quando eu perguntei a George ele me disse que minha imaginação estava me guiando, que eu estava paranóica.

Eu fui viajar com umas amigas e depois de alguns dias George me ligou para dizer que a garota havia partido. Eu voltei para casa, mas estava chocada por ele ter podido fazer isso comigo. Me senti rejeitada e miserável.

Foi por essa época que Eric começou a freqüentar nossa casa. Ele e George haviam se tornado amigos próximos, escrevendo e gravando música juntos.

A reputação de Eric como guitarrista era altíssima entre os músicos. Grafites nos muros declarando que “Clapton é Deus” estavam por todo o subúrbio de Londres, e era muito excitante vê-lo tocar. Ele era maravilhoso no palco, muito sexy.

Mas quando eu o conheci, ele não se comportava como um rock star – ele era surpreendentemente tímido e reticente. Eu sabia que Eric me achava atraente e eu gostava da atenção que ele me dava.

Era difícil não se sentir lisonjeada quando eu o pegava me olhando, ou quando ele escolhia se sentar próximo a mim. Ele me elogiava pelo que eu estava vestindo e a comida que eu cozinhava, e dizia coisas que sabia que me fariam rir. Essas eram todas as coisas que George não fazia mais.

Em uma noite de dezembro de 1969 eu levei minha irmã de 17 anos, Paula, para ver Eric tocar em Liverpool. Paula era muito bonita e um pouco do tipo “menina rebelde”, e naquela noite Eric se derreteu por ela. Depois do show, todos fomos para um restaurante e todos ficamos bêbados e rudes. Quando o resto de nós voltou para o hotel, deixamos Eric e Paula dançando.

Na noite seguinte, Eric estava tocando em Croydon e novamente Paula e eu fomos assistir, e novamente houve uma festa cheia de excessos depois do show, desta vez na casa de Eric em Ewhurst, Surrey. Logo depois, Paula foi morar com Eric.

Em março de 1970, George e eu nos mudamos para uma nova casa. Friar Park era uma magnífica casa no estilo vitoriano próxima de Hanley-on-Thames, Oxfordhire, com 25 quartos, um salão de festas, uma biblioteca, um jardim de 12 acres e mais 20 acres de terra.

Uma manhã, logo depois de nos mudarmos, uma carta chegou para mim com as palavras “confidencial” e “urgente” escritas no envelope. Dentro eu encontrei um pequeno pedaço de papel. Em letras miúdas, sem letras maiúsculas, eu li: “querida l. como você provavelmente já percebeu, meus assuntos caseiros são uma farsa galopante, que estão se degenerando dia após intolerável dia... parece uma eternidade desde a última vez que te vi ou falei com você!”

Ele precisava saber o que eu sentia: eu ainda amava meu marido ou eu tinha outro amante? Mais crucialmente, eu ainda tinha sentimentos em meu coração para ele? Ele precisava saber, e me implorou para que respondesse. “por favor faça isso, não importa o que diga, minha mente vai descansar... todo meu amor, e”.

Eu concluí que era de um maluco.

Eu recebia algumas cartas de fãs ocasionalmente – quando não eram cartas raivosas de fãs do George. Eu mostrei a carta para George e outros que estavam na casa. Eles riram e a desprezaram, assim como eu.

Naquela noite, o telefone tocou. Era Eric. “Você recebeu minha carta?”, ele perguntou.

“Carta?”, eu disse. “Eu acho que não. De qual carta você está falando?”

Então caiu a ficha. “Era sua? Eu não imaginava que você se sentia assim”. Foi a carta mais passional que alguém já havia escrito para mim e colocou nosso relacionamento em um outro patamar. Ela fez o flerte mais excitante e perigoso. Mas eu pensava que era apenas flerte.

De tempos em tempos durante a primavera e o verão de 1970, Eric e eu nos vimos. Um dia, caminhando pela rua Oxford, ele me perguntou: “Você gosta de mim, afinal, ou está me vendo porque sou famoso?”

“Oh, eu pensei que você estava me vendo porque sou famosa”, eu disse. Nós rimos.

Ele sempre teve dificuldade em falar sobre seu sentimento, e ao invés disso os despejava em suas músicas e letras.

Teve uma vez em que nos encontramos sob o relógio da rua Guildford High. Ele havia acabado de voltar de Miami e me trouxe calças boca-de-sino – como na música “Bell Bottom Blues” (nota do tradutor: Blues das Calças Boca de Sino). Ele estava bronzeado e estava lindo e irresistível – mas eu consegui resistir.

Em outra ocasião eu dirigi para Ewhurst e nos encontramos num bosque ali perto. Eric estava usando um casaco de pele de lobo e estava muito sexy. Nós não fomos para sua casa porque alguém poderia estar lá. Muitas pessoas moravam em Hurtwood Edge: sua banda, os Dominos, Paula e Alice Ormsby-Gore, outra das namoradas de Eric.

A freira dentro de mim achou a situação desconfortável mas estranhamente excitante, e foi no fim daquele ano, depois que Eric tocou “Layla” para mim no apartamento em South Kensington que eu sucumbi a seus avanços.

Depois do confronto entre George e Eric na festa de Robert Stigwood, eu voltei para casa com meu marido. Ao chegar lá, eu fui para a cama e George desapareceu em seu estúdio.

Quando voltei a encontrar Eric, ele apareceu de surpresa em Friar Park. George estava viajando – eu não sei se Eric já sabia disso – e eu estava sozinha. Ele disse que queria que eu fugisse com ele: ele estava desesperadamente apaixonado por mim e não podia viver sem mim. Eu teria que abandonar George naquele momento e ir com ele.

“Eric, você está louco?”, eu perguntei. “Eu não posso. Estou casada com George”.

Ele disse: “Não, não, não. Eu te amo. Eu tenho que ter você na minha vida”.

“Não,” eu disse.

Ele pegou um pequeno frasco de seu bolso e o segurou em minha direção.

“Bem, se você não fugir comigo, vou usar isso”.

“O quê é isso?”

“Heroína”.

“Não seja tão estúpido”. Eu tentei tirar dele mas ele puxou seu punho e escondeu o frasco no bolso.

“Se você não fugir comigo”, ele disse, “é isso. Estou fora”.

E ele sumiu. Raramente o vi nos três anos seguintes.

Ele fez como ameaçou. Ele usou a heroína e rapidamente ficou viciado. E ele levou Alice Ormsby-Gore com ele.

Eric já havia usado vários tipos de drogas, aquelas que todos usávamos – maconha, estimulantes, depressivos e cocaína – e ele bebia consideravelmente. Mas seu traficante andava insistindo recentemente que ele comprasse heroína cada vez que Eric comprava cocaína.

Eric andava usando heroína esporadicamente por quase um ano e acumulou uma boa quantidade. Então começou a usar sempre. Ele e Alice se isolaram em Hurtwood Edge. Ele não saía de casa, não via amigos, não atendia à porta ou ao telefone, e os dois quase caíram no esquecimento.

Nesse período Paula se foi. Ela esteve com Eric em Miami, quando ele estava gravando “Layla”, e na hora soube que era sobre mim. Ela sempre teve a suspeita de que Eric estava com ela porque ela era a segunda melhor coisa depois de mim, e eu era inalcançável. Ouvir “Layla” confirmou isso.

Ela esteve seriamente apaixonada por Eric, mas ele destruiu seu orgulho, auto-estima e confiança, que já eram frágeis.

Além disso tudo, sua irmã mais velha era a última pessoa em quem ela podia buscar apoio. Eu tentei ligar para Eric, mas Alice sempre atendida e eu desligava.

Eu passei a dar mais atenção para meu marido e para a reforma da casa. Por um breve período o projeto nos uniu, mas a casa era tão imensa e sempre tinha tanta gente nela que nunca tivemos qualquer intimidade. Na maior parte do tempo, mesmo quando George estava em casa, eu não sabia aonde ele estava.

Na hora das refeições, havia tantas outras pessoas na mesa que não era possível ter qualquer conversa. E mesmo que dividíssemos uma cama, ele geralmente estava em seu estúdio ou meditando metade da noite em seu quarto octagonal no topo da casa. Este cômodo havia virado seu santuário.

Eu me sentia mais e mais alienada. Eu não me sentia incluída nos pensamentos ou nos planos de George. Eu não era mais sua parceira em nada. Ele estava cercado de “homens-sim”. Quando eu o questionava disso, ele dizia: “Bem, eu odiaria estar cercado de homens-não”.

Eu ouvi falar de Eric novamente em janeiro de 1971, dois meses depois do encontro em que ele prometeu usar heroína. Ele me escreveu de uma cabana no País de Gales.

Na primeira página de uma cópia de “Of Mice And Man”, de Steinbeck, ele havia escrito: “querida layla, por nada mais que os prazeres do passado eu sacrificaria minha família, meu deus, e minha própria existência, e ainda assim você não se mexeria. eu estou no limite da minha mente, eu não posso voltar e não há nada no futuro (além de você) que pode me atrair para além de hoje. eu ouvi o vento, eu observei o aglomerado escuro de nuvens, eu senti a terra sob mim para um sinal, um gesto, mas havia apenas o silêncio. porque você hesita, sou um mau amante, sou feio, sou muito fraco, muito forte, você sabe porque? se você me quer, me leve, sou seu... se você não me quiser, por favor quebre este feitiço que me amaldiçoa. enjaular um animal é um pecado, domá-lo é divino. meu amor é seu.”

A carta estava assinada com um coração. Esta nota curta me despertou sentimentos que demorei dois meses para superar. Eu escrevi para ele e disse o que ele queria escutar.

“Como você está? Espero que o ar galês esteja refrescando sua mente e aquecendo seu coração. Oh, eu queria tanto passar um tempo com você aí... seria lindo estarmos juntos, apenas por um tempo.”

“Se as estrelas mudassem repentinamente seu curso e eu puder ir para Gales, enviarei um telegrama. Por favor, se cuide. Luas cheias de amor, L”

Assim que postei a carta, tive dúvidas terríveis e imediatamente enviei um cartão postal. Ele simplesmete dizia: “Olá, por favor desculpe e esqueça minha sugestão desmiolada. Com amor, L”.

Sua resposta veio na contracapa de um livro de baladas escocesas e estava escrita em tinta verde.

“foi muito significante ter recebido ambas as cartas na mesma manhã. foi como observar um bumerangue em pleno vôo”.

Ele disse que entendia minha situação e não sabia o que sugerir.

“eu amo você, mesmo você sendo medrosa”.

Nada saiu das nossas fantasias e eu não o vi ou falei com ele novamente até agosto de 1971. George havia persuadido Eric a ir para Hurtwood Edge para tocar em um evento filantrópico, “Concert For Bangladesh”, em Nova York.

Eric estava em uma fase péssima, mas George achava que se o levasse ao palco, mesmo sob o efeito de drogas, seu vício viraria um “segredo aberto” e talvez ele abrisse a porta para seus amigos um pouco, e eles poderiam ajudar.

Todo mundo sabia que se Eric tivesse a chance de terminar duas performances – uma de tarde e outra de noite – ele necessitaria de um suplemento de heroína assim que chegasse em Nova York.

Eu me lembro de conversas sobre encontrar uma muito boa, chamada Elefante Branco, para ele. Tinha que ser muito pura porque ele nunca injetava – ele morria de medo de agulhas – mas cheirava, como se fosse cocaína, em uma colher de ouro que ele usava no pescoço. Alice encontrou a heroína – ela sempre conseguia.

Enquanto eles moravam em Hurtwood Edge, ela foi para Londres para fazer o trabalho sórdido de pegar suplementos enquanto Eric ficava em casa. Se os suplementos começassem a acabar, ela daria a parte dela e pegaria alguma outra coisa. Ela estava bebendo pelo menos duas garrafas de vodka por dia para que ele pudesse usar a heroína.

Naquele dia ele e eu mal nos falamos. Ele estava rodeado de pessoas, e no palco, ele estava bem desligado; eu não tenho certeza se ele me viu. Foi um choque pensar que ele havia feito aquilo para ele mesmo por minha causa. No começou eu me senti culpada, mas depois meus sentimentos se inverteram violentamente e eu fiquei furiosa por ele ter me pedido para escolher entre ele e o meu marido.

Quando o show acabou, Eric e Alice voltaram para os horrores de sua prisão auto-imposta em Hurtwood Edge. Pete Townshend do The Who era o único amigo que se recusava a aceitar “não” como resposta e ia para a casa com tanta freqüência que eventualmente Eric teria que vê-lo.

Pete o persuadiu a tocar em outro show beneficente, desta vez em Finsbury Park, na zona norte de Londres.

O show em 1973, divulgado como a volta de Eric, foi um triunfo. Eu estava sentada na platéia com George, Ringo, Elton John, Joe Cocker e Jimmy Page. Eric não parecia bem – sua dieta de viciado de junk food e chocolate fizeram com que ele engordasse.

Quando eu ouvi as primeiras notas de “Layla”, a primeira música da noite, e depois a letra, meu sangue gelou. Ele podia ter se destruído nos últimos três anos, mas ele não havia esquecido como tocar um coração com sua guitarra.

Toda a emoção que eu havia sentido por ele quando ele desapareceu da minha vida ferveu dentro de mim.

O show fez Eric lembrar que havia uma alternativa para sua vida de viciado e ele concordou em aceitar o tratamento. Ele se livrou da heroína – e foi direto para o álcool.

Ele se tornou um visitante regular de Friar Park e expunha seu amor por mim com vigor crescente. Cartas chegavam quase diariamente, e nelas ele pedia para que eu deixasse George e fosse com ele.

Enquanto isso, as coisas entre George e eu estavam indo de mal a pior. Eu não sabia quais eram seus sentimentos em relação ao Eric quando ele voltou em nossas vidas.

Nós estávamos tão chapados na noite da festa de Robert Stigwood que ele poderia ter esquecido sobre o confronto na névoa, mas eu acho que não. George nunca falou sobre isso, mas depois daquela noite eu acho que ele sentiu que podia ser tão descarado quanto quisesse ao buscar outras mulheres.

Na primavera de 1973 nós iríamos viajar juntos nas férias. No dia anterior à nossa partida, George disse que não estava se sentindo bem e que não poderia ir. Ele acabou indo para a Espanha, supostamente para ver Salvador Dali, com a mulher de Ronnie Wood, Krissie.

Ronnie, então baixista do The Faces, e Krissie, eram nossos amigos e freqüentemente vinham passar uns dias em Friar Park. Eu estava desesperadamente machucada: outra de minhas amigas estava dormindo com George.

Quando eu o desafiei ele negou.

Ao invés de viajar com George, fui às Bahamas com minha irmã Paula, que estava lutando contra o próprio vício em heroína. Enquanto estávamos lá recebemos uma ligação de Ronnie Wood. Ele estava em turnê e disse que iria passar uns dias conosco. Ele não parecia bravo com o fato de sua mulher estar com George – ele achava engraçado eles terem ido ver Dali.

Ronnie era um homem adorável, e talvez naquele momento um pouco de diversão, risadas e um par de braços confortantes fossem o que eu precisava.

A gota d’água para George e eu foi seu caso com a esposa de Ringo, Maureen. Ela era a última pessoa de quem eu esperava uma punhalada nas costas.

Eu descobri através de algumas fotos que ela esteve em casa com George enquanto eu visitava minha mãe em Devon. Ele havia dado a ela um belo colar, que ela usou na minha frente.

Então eu os encontrei trancados em um quarto em Friar Park. Eu fiquei do lado de fora esmurrando a porta e gritando: “O que você está fazendo? Maureen está aí dentro, não está? Eu sei que ela está!”. George apenas ria.

Depois de um tempo ele abriu a porta e disse: “Oh, ela só estava um pouco cansada, então se deitou”.

Eu corri direto prá laje da casa e abaixei a bandeira com o símbolo do Om que George tinha hasteado e hasteei a bandeira de pirata no lugar. Aquilo me fez sentir muito melhor.

Maureen não estava preparada nem para ser sutil. Ela voltou ao Friar Park meia noite e eu perguntei: “Que diabos você está fazendo aqui?” “Eu vim escutar o George tocar no estúdio.” “Bem, eu vou para a cama.” “Ah, bem, eu vou pro estúdio.”

Na manhã seguinte ela ainda estava lá, e eu perguntei: “Você já pensou nos seus filhos? O que você quer? Não gosto disso.”

“É complicado,” foi sua resposta.

Ringo não imaginava o que estava acontecendo até eu ligar para ele um dia e dizer: “Você já se perguntou porque sua mulher não volta para casa de noite? É porque ela está aqui!” Ele ficou furioso.

George continuava fingindo que nada estava acontecendo e me deixava sentir como se estivesse ficando paranóica.

Eu me sentia rejeitada e abandonada e era terrivelmente difícil falar com George. Ele havia ficado pior no ano anterior, talvez porque Eric continuasse vindo e deixando óbvio que queria me ver. George deve ter sentido que estávamos tendo um caso, mas nunca disse nada.

Numa noite, o ator John Hurt estava conosco. Eric estava para vir também e George decidiu tirar a história a limpo com ele. John quis ser educado e sair, mas George insistiu para que ficasse.

John se lembra de George descendo as escadas com duas guitarras e dois pequenos amplificadores, os deixando no chão da sala e esperando impacientemente a chegada de Eric – que estava de cara cheia, como de costume.

Assim que Eric passou pela porta, George estendeu uma guitarra e um amplificador a ele – como um cavalheiro do século XVIII oferece a espada a um rival – e por duas horas, sem uma palavra, eles duelaram. O ar estava elétrico e a música excitante.

No fim das contas nada foi dito, mas o sentimento geral era de que Eric havia ganhado. Ele não havia se deixado irritar ou apelado para exercícios de escala como George havia. Mesmo bêbado, ele era imbatível na guitarra.

Toda a época foi maluca. Friar Park era um hospício. Nossas vidas eram regadas a álcool e cocaína, e assim era a vida de todos que viviam no nosso meio. Todos estávamos tão bêbados, chapados e hedonistas quanto os outros. Ninguém parecia ter objetivos, prazos ou nada pressionando suas vidas, nenhuma estrutura ou responsabilidade.

Cocaína é uma droga sedutora porque faz você se sentir eufórico e bem consigo mesmo. Ela tira suas inibições e faz até a pessoa mais tímida e insegura se sentir confiante.

E nós tínhamos tanta energia – qualquer um falaria besteiras duas vezes mais e beberia duas vezes mais porque a cocaína nos fazia sentir sóbrios. George usava cocaína demais e eu acho que isso o mudou.

Maconha não era destrutiva. A maconha nos anos sessenta – uma droga muito diferente do skunk que os garotos fumam hoje – tinha a ver com paz, amor e expansão de consciência. Cocaína era diferente e eu acho que congelou as emoções de George e endureceu seu coração.

Na noite de ano novo de 1973, Ringo deu uma festa em sua casa. George chegou antes de mim e, quando eu cheguei, ele disse: “Vamos nos divorciar neste ano”.

Em 1974, George contou a Ringo que estava apaixonado por sua esposa. Ringo ficou num estado lastimável e saiu dizendo: “Nada é real, nada é real”.

Fiquei furiosa. Saí de mim e pintei meu cabelo de vermelho.

Em junho daquele ano, eu voltei para casa uma noite para encontrar Eric, Pete Townshend e Graham Bell, outro músico, perambulando ao redor de nossa casa.

Eu fiz uma janta, que nós comemos entre risos forçados, e então Eric me levou para fora e me pediu novamente para deixar George. Nós ficamos sozinhos e juntos pelo que pareceram horas, e ele estava tão passional, desesperado e persuasivo que eu me senti inquieta, perdida e confusa.

Eu tinha de fazer uma escolha. Eu iria com Eric, que havia escrito a música mais linda para mim, que havia ido ao inferno e voltado nestes últimos três anos por minha causa e que havia me balançado com seus protestos de amor?

Ou eu escolheria George, meu marido, que eu havia amado mas que estava sendo frio e indiferente em relação a mim por tanto tempo que eu mal podia me lembrar da última vez que ele havia me mostrado qualquer afeto, ou dito que me amava?

Naquela noite, Eric partiu e foi quase que diretamente para os Estados Unidos em turnê. No dia 3 de julho eu contei a George que o estava deixando. Era tarde da noite e eu entrei no estúdio explicando que estávamos levando uma vida ridícula e odiosa, e que eu estava indo para os Estados Unidos. Quando ele foi para a cama, eu podia sentir sua tristeza ao deitar ao meu lado. “Não se vá”, ele disse.

Metade de mim queria ficar e acreditar nele quando ele disse que ia melhorar, mas eu estava decidida.

No dia seguinte, com grande tristeza no coração, eu empacotei algumas coisas, disse um adeus choroso ao Friar Park e voei para a América. O que eu havia sentido por George foi um grande e profundo amor. O que Eric e eu tínhamos era uma paixão poderosa e intoxicante.

Era tão intensa, tão urgente, tão avassaladora que eu quase perdi o controle. Ao fazer a decisão de sair do meu casamento, eu sabia que estaria com ele, iria a todos os lugares com ele, faria tudo o que ele fizesse, ficaria com ele de todo o jeito. O que, naquela turnê nos Estados Unidos em 1974, significava beber.

Matéria original: Parte 1, Parte 2

Pattie Boyd

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2 Comentários:

Às 12 de maio de 2008 às 19:04 , Anonymous Anônimo disse...

Ola,
Ao ler este trecho do que a Srta.Boyd nos declara publicamente, não pude deixar de me sentir diante de uma mulher que, mesmo com o passar dos anos e com a chegada do que deveria ser maturidade, permanece presa a um passado "de glórias", em que ela vê a si mesma como toda poderosa, capaz de inspirar paixões das mais avassaladoras possíveis, demonstrando através de seu discurso e das imagens que escolhe para descrever a si e aos outros, que ela nunca pôde ir além do que foi, ou seja, uma modelo, que vive da própria imagem e do efeito que causa nos compradores em potencial daquilo que ela desfila. Como profissão, vá lá, mas adotar essa "filosofia" para se colocar na vida e diante de outros, é faltar a si como pessoa que garimpa a própria personalidade e identidade durante a vida.
No texto, o que vejo são mulheres descritas quase que sem vontade própria, sujeitas aos desejos dos homens, como se elas não tivessem escolha, deixando que esses desejos determinem suas vidas, seus vícios, suas fraquezas, fracassos ou felicidade. Homens não escapam a essa falta de opção também, em sua escrita, com a diferença de que estes estão sujeitos a seus próprios impulsos interiores e são responsaveis por exigirem que as donzelas de seus sonhos, os salvem de um destino incerto e trágico.
Calculo que para senhoras como esta, o mundo gire em torno de sua beleza ou charme estonteantes e de tudo que eles podem causar no sexo oposto. Em outras palavras, ela se encaixa naquele grupo, de homens e mulheres, que julgam que a vida se resume na juventude, que o que de melhor lhes aconteceu foi durante aquela época de suas vidas, ou seja, pessoas que, de uma forma ou de outra, cultuam o mito da juventude eterna e não encontram mais nada de interessante na vida para fazer do que lembrar de si mesmos como jovens, passionais, potentes, senhores de suas fantasias.
A senhorita realmente se vê como uma donzela pela qual dois Cavaleiros medievais se batem, versão pop star, e é assim que ela parece querer ser vista em seu livro.
Sugiro que se tenha em mente, então, quando se ouvir a versão Pattie Boyd sobre sua vida entre os famosos, que toda história tem dois lados, senão um terceiro lado, aquele de quem escuta a história. Juntando, não apenas o que já ouvi e li sobre as pessoas envolvidas na história, lembro da declaração de George Harrison, sobre como Eric Clapton o ajudou a superar um certo 'complexo de inferioridade' quanto a sua habilidade como guitarrista, quando os dois se reuniam para tocar, em Friar Park, fazendo descer os amplificadores, etc.
Quanto ao 'quarto octagonal' e todo o interesse de Harrison pela meditação e pela filosofia hinduísta, não poderia ser que, justamente por estar insatisfeito com a qualidade de vida que levava, em meio a tanta falta de compromisso com uma verdade interior, aquela não ditada pelo "mundo material", ele não estivesse buscando o que, então, a mocinha em sua vida não podia entender como sendo a busca justamente pelas mudanças que ela esperava dele? Ela mesma afirma não ter acreditado que ele pudesse mudar, mas ele mudou! Pattie Boyd, no entanto, continua como sempre foi e demonstra, para os mais avisados, que nunca esteve mesmo em sintonia com o homem com que se casou. Os homens com quem se casou?
Note-se também que de fato os dois personagens dos delírios narcisistas de Layla sempre se comportaram dignamente em relação a suas vidas pessoais e aqueles que delas participaram. Se tinham que falar de alguém, ou falavam bem ou se calavam. Em sua auto-biografia, Eric Clapton se revela inteiramente, sem expor senão a si mesmo. Numa reportagem sobre o lançamento do livro da Srta.Boyd, Eric Clapton se declara indignado e surpreso, como eu mesma, com suas declarações sobre ele destruindo vidas, difundindo o vício do alcool, etc, na vida de outros e dela mesma.
Quanto ao Sr.Harrison, este não está mais entre nós para declarar nada, mas creio que sua vida, de uma forma geral, pode falar por ele.
Fica aqui a sugestão, então, de que se leia a auto-biografia de Eric Clapton, e que se procure ouvir também as outras partes da história que a ex-esposa de dois expoentes do rock contemporâneo conta em seu livro.

 
Às 12 de maio de 2008 às 22:49 , Blogger valleayres disse...

Marian, depois da dissecação do texto acima, só tenho uma coisa a dizer você:

“Oh, my god, simplesmente perfeito” !!!

 

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