quinta-feira, 29 de maio de 2008

O Vinil no Reino do CD

Há mais de vinte anos que o compact-disc, vulgo CD (inventado em 1979 e comercializado a partir de 1982), fez a sua entrada nos meios dos registos sonoros. Tinha por missão alcançar uma melhoria significativa no som, livrando-nos de todos os cracks e plops com que o VINIL usualmente nos brindava. Não falando nos primeiros anos de vida, em que o som debitado era realmente muito mauzinho, hoje pode-se de um modo geral reconhecer que tal missão foi alcançada. Melómanos à parte, cuja exigência de qualidade só muito raramente é satisfeita e sempre por intermédio de equipamentos super luxuosos cujo acesso está vedado à grande maioria dos amantes de música.

Mas apesar do salto qualitativo em termos de áudio, será que o CD conseguiu substituir o VINIL? Penso que não, porque tirando o som (e mesmo esse é discutível, visto que a faixa dinâmica e resposta do CD não supera em todos os quesitos as do VINIL – nomeadamente nas frequências extremas em que a “naturalidade” e a espacialidade se perdem) o CD nunca conseguiu ocupar o lugar do VINIL, sobretudo como objecto iconográfico de várias gerações de consumidores.

Se pensarmos que a área útil da capa de um CD é cerca de nove vezes inferior à de um long-playing de VINIL, facilmente se compreende a razão da impossibilidade de uma hipotética substituição. Na altura do lançamento do compact-disc privilegiou-se mais uma vez o lucro fácil (hoje já não é segredo para ninguém que o custo de fabrico de um CD representa menos de 10% do preço a que ele é tabelado comercialmente), não se tendo sequer pensado que as novas dimensões, de tão reduzidas, iriam inevitavelmente acabar com um dos grandes trunfos das edições em VINIL.

Refiro-me obviamente às capas e a todo o artwork a elas associado. Hoje em dia publicam-se livros ou fazem-se exposições sobre essas mesmas capas, divulgam-se os nomes dos artistas que deixaram a sua marca em muitos trabalhos discográficos. Mas na era pré-CD tudo isso estava implícito no objecto disco, ou seja, comprava-se pelo mesmo preço a música e a arte.

E tão diferente era a sensação de se ir a uma loja de discos, manusear dezenas e dezenas de exemplares até o nosso gosto pessoal eleger os felizes contemplados com um bilhete de ingresso às prateleiras da nossa casa. Seguia-se depois todo um cerimonial que conduzia à audição: a retirada do disco do seu invólucro, a colocação no prato do gira-discos, o acerto do nº de rotações, a passagem da escova “Emitex” pela superfície já em movimento, a suave descida da agulha na primeira espira da primeira faixa do primeiro lado.

E depois sentávamo-nos, com o album entre mãos. E caso as letras viessem lá impressas então o contentamento era ainda maior, pois dáva-nos a possibilidade de seguir as músicas palavra por palavra. Foi assim que eu me habituei a ouvir e a amar a música nos meus verdes anos. O advento do CD, nos meados dos anos 80, acabou de vez com todos aqueles pequenos prazeres, as novas capas foram banalizando-se cada vez mais até incluirem apenas um grande plano do intérprete do disco, a maior parte das vezes de qualidade fotográfica inferior.

Têm-se feito algumas tentativas nos últimos anos visando conferir ao CD uma dignidade própria: são as edições cartonadas especiais, réplicas de albuns ou ainda caixas de antologias onde se inclui diverso material adicional, como pequenos livros ou luxuosos folhetos. E no entanto a solução sempre foi fácil, pelo menos pessoalmente já a pratico há alguns anos a esta parte: dei-lhe o nome de “album híbrido”, que no fundo não é mais do que a junção dos dois suportes musicais: o principal, a versão original do disco em VINIL e o secundário, o CD incluído na capa interior (desse modo pode continuar a usufruir-se de todas as vantagens do album em edição original e ouve-se a música em CD para assim preservar o VINIL).

Créditos : Rato Records

O vinil resiste através dos tempos

Mesmo com o avanço da tecnologia de áudio com o surgimento do CD, passando pelo MP3 e o hoje em dia o IPOD - o Long Play, conhecido também como LP, disco de Vinil, ou ainda “bolachão” - não perdeu força entre os amantes da música e da arte. Ainda existem os prós e contras na aquisição de CDs e LPs. De um lado a praticidade - adquirir uma música rápida e sem custo através da internet; por outro a emoção de ouvir a música predileta produzida pelo som original de uma agulha. As diferenças entre o CD e o LP são muitas - a começar pela sonoridade. A leitura no primeiro é digital e no segundo é análogo, e isso faz uma grande diferença.

“Enquanto o vinil tem som mais grave e mais vivo, o do CD digital ganha definição de agudo e perde no som grave", explica o DJ Akeen. Já os cuidados, tanto com o CD e o LP, devem ser os mesmos, pois os dois riscam e estragam com facilidade. No caso do LP, o material possui a fragilidade de ser riscado, fazendo com que as músicas fiquem com chiados, ou ainda comecem a pular ou repetir durante a execução, enquanto o CD oxida e tem sua vida útil menor.

Uma outra característica que se desfez com o advento dos CDs - e o mais lamentável - foi a perda de espaço reservado para arte nos encartes. "No CD, o espaço para arte de capa é limitado; já no LP é infinito", afirma o multimídia Kid Vinil. Para o bancário Alexandre Verardo Bittencourt, "a capa dos discos, como são maiores, dão mais destaque aos trabalhos, ficando assim mais bonitos". Já para Akeen, ele acredita que “existem bons encartes em CDs; mas nem todos, principalmente as coletâneas que perdem um pouco da beleza”.

Mas nem tudo está perdido! Ainda é possível encontrar capas de CDs estrangeiros com ótimos trabalhos, devido aos esforços de novos artistas. “No Brasil, os selos independentes são mais preocupados com a arte no CD do que as grandes gravadoras”, afirma Kid.

Um outro agravante em relação à aquisição do CDs e LPs está relacionado ao custo. No exterior, o número de colecionadores e apreciadores de vinil é bem maior, obrigando as gravadoras à lançar compactos, remixes e LPs em tiragens limitadas, além de singles (CD com média de 2 músicas), principalmente para DJs. Porém, o custo do LP é elevado, acarretando na escolha do CD pelo público; ainda mais no Brasil, com uma sociedade que não possui um padrão para consumir CDs com preços normais, acarretando assim na compra de CDs piratas, de qualidade bem inferior.

Mesmo com tanta modernidade, praticidade, custo baixo e CDs piratas por toda parte, ainda existem aqueles que não trocam seus discos de vinil por nada. Para se ter uma idéia, a edição original de Necrophilia (1972) da banda de rock Rolling Stones, custa entre 5 e 10 mil euros, segundo o autor do catálogo “Record Collector Dreams” Hans Pokora, considerado como o maior colecionador do mundo, com cerca de 8,5 mil discos de vinil, todos raros. Pelo visto, o bom e velho vinil nunca deixará de despertar paixão em seus amantes colecionadores.

Essas imagens valem mais que mil palavras, mostram a última fábrica de vinil da América Latina, localizada em Belford Roxo - RJ. - Podem ainda não ter acabado no Brasil, mas tá bem, bem caidinha !!!

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